quarta-feira, 25 de agosto de 2010

E por falar em Caio...

Por extrema falta de criatividade, resolvi compartilhar com vocês um texto do Caio Fernando Abreu, que tem me feito muita companhia nos últimos tempos. Lá vai.


Extremos da paixão

Não, meu bem, não adianta bancar o distante:
lá vem o amor nos dilacerar de novo...

Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" – perguntariam os complacentes. Para estes últimos, que
m sabe, escrevo. E repito: andei pensando sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a) – mas a morte é inevitável, e portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor – essa pessoa – continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo - porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.
Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou -e-sem-ele-não-vivo-então-quero-morrer-e-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: “Se você não me amar, eu matarei o presidente”. E deu um tiro em Ronald Reagan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George – se não houver golpe publicitário nisso – é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.
No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si pr
óprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo, sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berra
ndo de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o eterno do perecível, loucos.
Depois, pensei também em Adele Hugo, filha de Victor Hugo. A Adele H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adele apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se no símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adele morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: “É para você, para você que eu escrevo” – dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.
Andei pensando em Adele H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que – se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor – depois do não, depois do fim – reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.
Ai, que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa – muito mais sábio –, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, “o amor car(o,a) colega esse não consola nunca de núncaras”. E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.

Caio Fernando Abreu
O Estado de S. Paulo, 08/07/86.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Surrupiando a inspiração alheia

Lu, quando eu crescer, quero ser como tu.

"Prendi meu dragão, como diria Caio
Só solto quando me sentir segura novamente
Até lá, o mundo não terá de mim mais do que eu tiver dele."

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Esperando, esperando, esperando...

A vida é engraçada. Já repararam que estamos sempre esperando ansiosamente por alguma coisa?

Quando crianças, esperamos pelo momento de ir à escola, aprender as primeiras letras e, finalmente, conseguir ler os anúncios nos outdoors, as revistinhas da Turma da Mônica, etc. Nem Deus deve saber onde vai parar esse gosto pela leitura quando chega a adolescência. Mas isso é assunto para outro post.

Falando em adolescência, essa deve ser a fase em que mais esperamos. Primeiro, queremos mais que tudo no mundo fazer 18 anos, tirar carteira de motorista e não depender mais do papai e da mamãe para nada. E com o passar do tempo, percebemos que a maioridade, em primeira instância, não muda tanto a nossa vida quanto gostaríamos. E quando, enfim, deixamos de depender dos nossos pais, temos uma imensa saudade dos tempos em que eles é que resolviam os nossos problemas. Em outro nível, ansiamos muito pelos finais de semana, pelas férias, pelas festas, pela estréia daquele filme, etc...

Chegando na fase adulta, queremos ganhar dinheiro. Trabalhamos, trabalhamos e trabalhamos mais um pouco para sobreviver, esperando incansavelmente pelo dia em que poderemos trabalhar menos e aproveitar mais a vida. E a vida vai passando...

É claro que em meio a tanto trabalho, sempre arranjamos tempo para as aventuras amorosas. E esperamos encontrar aquela pessoa que nos complete, nos compreenda e nos satisfaça em todos os sentidos. Assim, embarcamos em relacionamentos com pessoas diferentes, sempre acreditando que dessa vez acertamos. E, mais cedo ou mais tarde, algo nos faz ver que a espera ainda não terminou. E, muitas vezes, mesmo tendo a certeza de termos encontrado essa tal pessoa, temos que esperar que ela sinta a mesma coisa.

Não sei pelo que se espera depois disso. Ainda não cheguei lá. Mas algo me diz que, quando chegar, ainda não terei alcançado tudo aquilo que espero.

E, só para variar, esse papo me lembra uma canção do Chico:

"Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também
Esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem..."

Pedro Pedreiro




domingo, 8 de agosto de 2010

Tom & Vinícius - I have no existence without you

A poesia de Vinícius combinada com a música de Tom embala a alma de qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade.

Neste domingo chuvoso e melancólico, estou aqui atirada na cama, curtindo uma MPB e procurando vídeos das minhas canções favoritas. Uma delas é Eu não existo sem você. Dessa vez, São YouTube não quis colaborar muito. Há mil versões, mil interpretações, com os mais variados artistas. E eu só queria achar um registro de Tom e Vinícius. Missão impossível. Não existe. Se alguém tiver alguma notícia, por favor, não me esconda!

Enfim. Os videos são todos horrorosos. Aquelas montagens com fotos de flores, oceanos, casais apaixonados... tudo muito brega. Entre eles, achei uma interpretação de Oswaldo Montenegro, uma das vozes masculinas que eu mais gosto. Desconsiderem as imagens e apreciem apenas a música.



E qual não foi minha surpresa quando me deparei com o vídeo de um certo Paul Sonnenberg, que compôs uma versão em inglês para a obra prima dos brasileiros. Eu, que, em geral, abomino versões, fui obrigada a dar o braço a torcer. Além de ter uma bela voz, que condiz muito bem com o estilo "mpbístico", o cara conseguiu manter o sentido da poesia, o que é não é uma tarefa fácil. Congratulations, Mr. Sonnenberg.

Enjoy.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Quadrilhas da vida e da arte

De uns tempos para cá, venho observando alguns troca-trocas nos relacionamentos de amigos e conhecidos. E que fique bem claro que não estou falando apenas de relacionamentos amorosos, mas também de supostas amizades. Gente que não se suportava, hoje se ama. Há também os que se amavam incondicionalmente e agora sequer se cumprimentam. Existem os que estão ora com um, ora com outro, e acabam não se entregando verdadeiramente a ninguém. E temos, ainda, aqueles que conseguem se apegar a mais de uma pessoa ao mesmo tempo.

É inegável que a vida dá muitas voltas. Pessoas passam a fazer parte do nosso convívio por mera força das circunstâncias e, quando menos esperamos, se tornam essenciais. Entretanto, muitas vezes, com a mesma velocidade com que entraram, saem das nossas vidas de uma maneira desconcertante, muitas vezes causando sofrimento, e outras tantas nos trazendo a oportunidade de olhar em volta e ver que o mundo tem muito mais a oferecer do que aquela criatura que julgávamos ser a mais importante de todas. Por conseqüência, novos amigos surgem, e, com eles, novas possibilidades de relacionamento. Nunca se sabe quem vai se interessar por quem. Não se sabe se quem está com um hoje não estará com outro amanhã. Sabe-se menos ainda se os que hoje se odeiam não estarão assinando contratos e fazendo juras de amor no futuro.

Andei refletindo sobre essas coisas todas depois de preparar uma aula sobre Poesia Moderna para meus alunos do 3º ano. Ao reler um poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado Quadrilha, me pus a pensar sobre alguns fatos que causaram o que ouso chamar de revoluções entre meus amigos mais próximos. Mais uma vez, me deliciei e me impressionei com a capacidade que a literatura tem de revelar sensações e experiências reais, das mais banais às mais complexas.

Depois, me lembrei de uma canção do Chico, chamada Flor da Idade, que dialoga diretamente com o poema de Drummond, fazendo uma espécie de paródia. E, novamente, tive um momento quase epifânico relacionando os versos aos eventos que acompanhei de perto.

A conclusão a que cheguei após toda essa reflexão é muito simples: a vida é mesmo uma imensa quadrilha. Salve-se quem puder!

Aos que me perguntam por que acho a literatura tão fascinante, deixo este post como uma das respostas possíveis.

E para facilitar a vida dos que ficaram curiosos, mas morrem de preguiça de pesquisar, deixo a transcrição dos poemas e um vídeo para que possam conferir e tirar suas próprias conclusões.

Quadrilha - Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se,
E Lili casou-se com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.


Flor da Idade - Chico Buarque

A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e se só coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor

Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
A armadilha
A mesa posta de peixe deixa um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor

Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor

Carlos amava Dora que amava Lia
que amava Léa que amava Paulo
que amava Juca que amava Dora que amava
Carlos que amava Dora que amava Rita
que amava Dito que amava Rita
que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro
que amava tanto que amava a filha
que amava Carlos que amava Dora
que amava toda a quadrilha...


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Dos astros

Não acredito muito na tão falada influência dos astros sobre a vida das pessoas, mas a verdade é que meus amigos falam tanto sobre isso que, por vezes, acabo achando uma certa lógica. Há muita bobagem escrita em horóscopos, e, na maior parte dos casos, encontram-se previsões diferentes para o mesmo signo no mesmo dia. Vai entender.

Costumo dar uma espiada esporádica no horóscopo do Terra. Hoje me deparei com o seguinte:

Você começa a viver uma fase mais voltada para a limpeza de pessoas que não fazem mais nenhum sentido em sua vida. Os relacionamentos serão revistos e revisados, e somente permanecerão os que ainda estiverem em seu destino. É possível que você sinta uma certa impotência e que o Universo decida algumas coisas por você. Não se assuste, deixe que a vida se conduza por si só. O momento é um teste para a sua confiança básica na vida e entrega, portanto, relaxe.

Interessante, né? Mesmo não tendo certeza da validade desse blá blá blá todo, é reconfortante pensar que há alguma força maior resolvendo coisas que eu, sozinha, não consigo. Não que eu esteja querendo eliminar pessoas da minha vida. Não sou assim e não tenho motivos para isso. Mas é bom e, às vezes, necessário crer na velha filosofia do "se tiver que ser, será".

Sendo assim, que o destino me reserve boas surpresas, e que o Universo tome as decisões mais acertadas . Quanto à parte do "relaxe", prometo tentar. Sorte a todos os escorpianos.