quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Que semana!


Inferno astral, mal humor, TPM ou, simplesmente, cansaço. Chamem como quiserem. O fato é que, com frequência, passamos por períodos em que tudo parece dar errado.

Hoje, durante meu trajeto Canoas-Porto Alegre via Trensurb, por volta das 21h45, depois de infinitas horas de trabalho, cheguei até a rir da minha própria desgraça ao ouvir um trecho de uma canção de Leoni. A música é Alice (Não me Escreva Aquela Carta de Amor), mas não se trata de nada romântico. Não se iludam. Observem e me digam: quem nunca se sentiu assim?

Todo mundo sabe de alguma coisa que eu não sei
De um filme que eu não vi
De uma aula que eu faltei
Por mais que eu tente eu nunca chego no horário
Eu perco tudo que eu ponho no armário
Tudo atrapalha o que eu faço
Mas pros outros parece tão fácil
A fila que eu escolho vai sempre andar mais devagar
E o troco acaba bem na hora em que eu vou pagar
Se eu me distraio um único instante
Pode apostar que eu perco o mais importante
Tudo atrapalha o que eu faço
Mas pros outros parece tão fácil
Os vizinhos devem rir por trás do jornal
Eu desconfio de um complô
O maior que já se armou
Uma conspiração internacional

sábado, 25 de setembro de 2010

Os desencantos da vida encantada*


Em pleno início de primavera, Bela, aproveitando uma viagem de Fera, decide finalmente oferecer um chá encantado às suas amigas princesas que, depois do ‘felizes para sempre’, seguiram seus caminhos ao lado dos príncipes e afins e nunca mais haviam se encontrado.
Bela, tirando os pelos de Fera dos sofás para não passar vergonha com as amigas, ouve a campainha e supõe ser sua primeira convidada, Rapunzel, que chegou à casa com um ar de aliviada e com os cabelos agora negros e mais curtos do que nunca.
- Meu Deus Rapunzel, mal a reconheci com seu novo visual! O que aconteceu? - Perguntou Bela surpresa à sua convidada.
- Não, aquilo não era vida! Dores de cabeça constantes por um marido que toda noite chegava em casa e exigia subir até a suíte sem utilizar as escadas, mas sim meus cabelos. Não merecia isso, então, alguns meses depois de me casar com o príncipe eu resolvi me atualizar! (...)
Enquanto Rapunzel explicava suas histórias cabeludas e se acomodava em um sofá, Bela foi receber Branca de Neve que sempre se encontrava comendo sua maçã, e Cinderela que chegava tirando seus sapatos de baixo de sua saia, escondidos para que seu marido não os pegasse para usar.
- Olá meninas, há quantos anos não as vejo! Desde o aniversário de João e Maria, suponho. – Disse Bela recordando do último acontecimento que as reuniu.
- É verdade Bela, boa festa aquela! – respondeu Branca, já não tão branca como a neve por seu bronzeamento artificial, recém feito especialmente para o encontro com as amigas.
Antes mesmo das duas princesas entrarem na casa de Bela e se juntarem a Rapunzel que, já sentada no sofá e comendo uns biscoitos, se preparava para o espanto que causaria nas princesas com o novo visual, chegou Chapeuzinho Vermelho aos prantos com sua cesta de doces.
- Bela, não aguento mais, só você para me entender! Além dos pelos emporcalhando a casa, ainda tenho que aturar o Lobo me traindo com a Vovó. É o fim! Por que não podia ter me casado com um príncipe como as outras?
A verdade é que, casadas com príncipes, lobos ou feras, a vida de nenhuma das princesas era fácil e todas estavam cansadas de saber que o ‘felizes para sempre’ era apenas uma frase para finalizar os contos com um ar de fantasia, pois na realidade a expressão não fazia nenhum sentido à frente dos problemas característicos daquelas mulheres.
Chapeuzinho entrou e foi tranquilizada por todas as princesas, mas principalmente por Branca de Neve que, com seus sete maridos anões, já estava acostumada a traições.
No meio de tanto falatório, fofocas sobre as madrastas e bruxas e assuntos a serem colocados em dia, Cinderela ouve um estrondo vindo da entrada da casa e vai ver o que é. Logo ao abrir a porta, se depara com Bela Adormecida caída no chão agarrada a um travesseiro e logo chega à conclusão de que a amiga havia esquecido de tomar seu energético. Cinderela acorda Bela Adormecida e as duas entram conversando sobre a mania que a amiga dorminhoca tinha de cair literalmente de sono. Já na sala, mal a princesa sonolenta cumprimentou as outras, pôs-se a dormir de pé.
Conversa vai, conversa vem, assim a tarde seguiu. Risadas, choros, casos e acasos, amigas como outras, as princesas lembravam do passado e da juventude encantada e acabavam se divertindo com o desencanto e as confusões do presente.

Por Mariana Pesenti


*Esse texto foi escrito pela Mariana, minha aluna do 3º ano do Ensino Médio, para um trabalho de inglês. A proposta era criar uma história, que posteriormente seria traduzida para a língua inglesa e, depois, tranformada em fotonovela. Como sempre, as meninas (Bruna, Camila, Carol, Mari B., Mari P. e Stephanni) superaram minhas expectativas. Achei o conto tão criativo e bem escrito que resolvi publicar aqui, com a devida autorização da autora, é claro. Mal posso esperar para ver o resultado final do trabalho. Parabéns, gurias!






domingo, 12 de setembro de 2010

Das tempestades da vida

É interessante notar como encontramos a felicidade nos situações mais improváveis. Passamos a vida inteira tentando agir de acordo com o que o senso comum considera correto, tentando proteger as pessoas que amamos e a nós mesmos do sofrimento, mas chega um ponto em que, inevitavelmente, nos damos conta de que a vida tem mais controle nós do que nós sobre ela. Fato.

Quem observa tudo de fora e acompanha o desenrolar dos acontecimentos de perto, ou não tão de perto assim, julga nossas atitudes e faz o possível para nos mostrar o melhor caminho. É reconfortante sentir o carinho e a preocupação de amigos diante do que lhes parece absurdo. Entretanto, há certas coisas que precisamos experimentar para ver o que acontece. Às vezes, é necessário dar a cara a tapa, mesmo conhecendo as possíveis consequências, porque por mais próximas que as pessoas estejam, só quem está no olho do furacão é que consegue sentir a força real da tempestade e o quanto é difícil escapar dela.

E por falar em tempestade, um julgamento muito comum é o que diz que quando ela acaba, tudo perde a graça. Será? Tenho a convicção de que a vida é feita e encantos e desencantos o tempo todo. Inevitavelmente, nos encantamos, nos desencantamos, nos reencantamos por coisas, pessoas, situações. Nada mais natural. Tenho certeza, também, de que o medo de que os encantos se quebrem não deve nos impedir de nos jogarmos de cabeça naquilo que em determinado momento nos parece a felicidade completa. Assim, voltamos ao ponto inicial: a felicidade que surge nas situações mais improváveis.

Aquela canção que diz "e não há tempo que volte, amor; vamos viver tudo que há pra viver" é um grande clichê. Mas, como todo clichê, é uma grande verdade. É preciso uma certa dose de coragem para vivermos TUDO que há para viver, mas dia a dia me convenço de que vale a pena. Depois da tempestade sempre vem a calmaria; e quando ela chegar, estarei pronta para aproveitar todo o deleite que só as grandes conquistas, sejam elas quais forem, podem proporcionar, com a certeza de que nada é em vão.

Alegrias, as desmedidas.
Dores, as não curtidas.

Casos, os inconcebíveis.
Conselhos, os inexeqüíveis.

Meninas, as veras.
Mulheres, insinceras.

Orgamos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.

Domicílios, os temporários.
Adeuses, os bem sumários.

Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.

Prazeres, os transparentes.
Projetos, os contingentes.

Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.

Cores, o rubro.
Meses, outubro.

Elementos, os fogos.
Divindades, o logos.

Vidas, as espontâneas.
Mortes, as instantâneas.

Bertold Brecht