Muito por acaso, descobri AGORA um blog pelo qual me apaixonei instantaneamente. Chama-se EnTHulho Musical e é de autoria de Thiago Henrick. Aos que apreciam o melhor da música brasileira, recomendo uma visita. Aos que não se interessam tanto assim, mas estão curiosos para saber a razão do meu encantamento, tomo a liberdade de citar um post inteirinho, que me provocou uma certa inveja, devo confessar. É uma inveja boa, que nos assola quando nos deparamos com uma obra bem feita, que gostaríamos de ter feito nós mesmos.
Ao ler o tal post sobre Chico Buarque, me identifiquei com as palavras do Thiago imediatamente. O texto é muito bem escrito e descreve muito da minha relação com a obra do Chico. Formidável.
Sem mais blá blá blá, aí vai a cópia, com os devidos créditos ao autor:
Desde pequeno lembro que Chico Buarque representava um sentimento próximo da unanimidade em termos intelectuais. Os mais velhos não admitiam que falassem mal de sua obra, e os mais novos mantinham o respeito à opinião adulta em massa.
A priori, como toda criança, achava Chico “coisa de gente velha” e não via graça nenhuma nas canções. Era comum ouvir “Cálice” no mais alto volume no aparelho de meu avô, e, na minha simplicidade, zombar dos erros de pronuncia “pai, afaste de mim e se cale-se” ou estranhar a parceria com Milton Nascimento em “O que será, que será” - era esquisito ouvir dois homens de vozes tão diferentes interagindo tão bem. Chico só se fazia atraente aos meus ouvidos quando chegava próximo do meu universo infantil cantando as músicas dos “Saltimbancos” ou na acertada parceria com Simone com a bela “Iolanda” (que me remete a uma tia já falecida, que tinha este nome).
Na adolescência, a letra de “Construção” era alvo favorito de análises gramaticais das professoras de português, lembro de lições sobre a mesma na sexta e na oitava série, e até de uma prova que tinha a letra inteira numa questão. E tentar decorá-la foi talvez meu primeiro “encanto” e familiaridade com a obra de Chico. Daí a se aprofundar foi um pulo - com as aulas de História e a criação de alguma consciência política, vieram as identificações com as ideias de Chico, de um bom senso sem tamanho. Passei a saber mais de sua vida. Maravilhei-me com as peças teatrais escritas, os poemas realizados. Encontrei músicas tão políticas, emblemáticas, românticas, verdadeiras, piadistas, sinceras, humanas e divertidas! Jogos de palavras geniais e uma capacidade quase sobre-humana de colocar o eu-lírico feminino em evidência e com uma perfeição espetacular.
Passada a fase do encanto cego, passei a digerir mais o pensamento de que, tudo em demasia, é cansativo. O culto a Chico, de tão grande que se perfez ou inalcançável que se firmou, inevitavelmente trouxe uma “dose de realidade’. Chico não é semideus e, a despeito da grandiosidade de sua obra, é um brasileiro com tantos defeitos quantos forem necessários. É conhecido seu lado mulherengo, verificado até em pequenos escândalos não generalizados, assim como a gente aceita o fato dele, hoje em dia, não lançar nada mais do que o óbvio e enfadonho, querendo justificativa no “já ter contribuído demais com a música brasileira e não precisar provar mais nada”.
O que os fanáticos e admiradores de suas melhores obras precisam enxergar é que a grandiosidade se verifica justamente no Chico humano. O que tem mau humor, o que trai, o que toma decisões políticas discordantes (vi o cumulo: pessoas apoiando Dilma apenas porque Chico disse que votaria nela!). A griffe Buarque de Hollanda às vezes se comporta como “as vitrines” – são atraentes a ponto de chamar muita gente que sequer entende o que se está por trás do produto. Ele não deveria ser quase unanimidade ao ser elencado quando se quer mostrar que é intelectual, a ponto de persegui-lo por todos os seguimentos e parâmetros inimagináveis. O efeito obtido é exatamente o oposto: ao invés de ser chic e Cult, nada mais são do que pessoas vazias e de opiniões copiadas com papel carbono e da profundidade de um pires.
O Chico humano não deveria ser tão formador de opiniões como é. Ele não é muito diferente de tantos cidadãos que estão por aí e, como “gente humilde’, não tem mesmo pretensão de ser! Tem suas opiniões como qualquer outro, até sobre assuntos que não dizem nada a ele, mas não há necessidade alguma de endeusá-lo por conta das glórias de suas obras.
Razoabilidade ainda se pede!
A priori, como toda criança, achava Chico “coisa de gente velha” e não via graça nenhuma nas canções. Era comum ouvir “Cálice” no mais alto volume no aparelho de meu avô, e, na minha simplicidade, zombar dos erros de pronuncia “pai, afaste de mim e se cale-se” ou estranhar a parceria com Milton Nascimento em “O que será, que será” - era esquisito ouvir dois homens de vozes tão diferentes interagindo tão bem. Chico só se fazia atraente aos meus ouvidos quando chegava próximo do meu universo infantil cantando as músicas dos “Saltimbancos” ou na acertada parceria com Simone com a bela “Iolanda” (que me remete a uma tia já falecida, que tinha este nome).
Na adolescência, a letra de “Construção” era alvo favorito de análises gramaticais das professoras de português, lembro de lições sobre a mesma na sexta e na oitava série, e até de uma prova que tinha a letra inteira numa questão. E tentar decorá-la foi talvez meu primeiro “encanto” e familiaridade com a obra de Chico. Daí a se aprofundar foi um pulo - com as aulas de História e a criação de alguma consciência política, vieram as identificações com as ideias de Chico, de um bom senso sem tamanho. Passei a saber mais de sua vida. Maravilhei-me com as peças teatrais escritas, os poemas realizados. Encontrei músicas tão políticas, emblemáticas, românticas, verdadeiras, piadistas, sinceras, humanas e divertidas! Jogos de palavras geniais e uma capacidade quase sobre-humana de colocar o eu-lírico feminino em evidência e com uma perfeição espetacular.
Passada a fase do encanto cego, passei a digerir mais o pensamento de que, tudo em demasia, é cansativo. O culto a Chico, de tão grande que se perfez ou inalcançável que se firmou, inevitavelmente trouxe uma “dose de realidade’. Chico não é semideus e, a despeito da grandiosidade de sua obra, é um brasileiro com tantos defeitos quantos forem necessários. É conhecido seu lado mulherengo, verificado até em pequenos escândalos não generalizados, assim como a gente aceita o fato dele, hoje em dia, não lançar nada mais do que o óbvio e enfadonho, querendo justificativa no “já ter contribuído demais com a música brasileira e não precisar provar mais nada”.
O que os fanáticos e admiradores de suas melhores obras precisam enxergar é que a grandiosidade se verifica justamente no Chico humano. O que tem mau humor, o que trai, o que toma decisões políticas discordantes (vi o cumulo: pessoas apoiando Dilma apenas porque Chico disse que votaria nela!). A griffe Buarque de Hollanda às vezes se comporta como “as vitrines” – são atraentes a ponto de chamar muita gente que sequer entende o que se está por trás do produto. Ele não deveria ser quase unanimidade ao ser elencado quando se quer mostrar que é intelectual, a ponto de persegui-lo por todos os seguimentos e parâmetros inimagináveis. O efeito obtido é exatamente o oposto: ao invés de ser chic e Cult, nada mais são do que pessoas vazias e de opiniões copiadas com papel carbono e da profundidade de um pires.
O Chico humano não deveria ser tão formador de opiniões como é. Ele não é muito diferente de tantos cidadãos que estão por aí e, como “gente humilde’, não tem mesmo pretensão de ser! Tem suas opiniões como qualquer outro, até sobre assuntos que não dizem nada a ele, mas não há necessidade alguma de endeusá-lo por conta das glórias de suas obras.
Razoabilidade ainda se pede!
*Thiago Henrick - EnTHulho Musical - 29 de outubro de 2010.