"Zorza vê Ariela que atravessa a rua num saiote leviano, sob o sol do meio-dia, e pensa que seus encontros já valeriam pelo momento em que ela suspende a coxa para entrar no seu carro. Incrédulo, saboreia a passagem de Ariela para dentro do seu território, numa rara demonstração de que deseja pertencer-lhe. Ariela é orgulhosa e executa de maneira despachada o movimento que, aos olhos de Zorza, transcorre minuciosamente: seu pé esquerdo pisa o tapete de borracha, e o corpo ensolarado vem atrás, pouco a pouco, caindo na sombra por fatias. Se algum dia Ariela lhe concedesse três pedidos, Zorza não teria dúvida: pediria que ela entrasse três vezes no seu carro."
Chico Buarque, em Benjamim (Ed. Cia. das Letras, 2004, p.62)
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