segunda-feira, 30 de maio de 2011

Tempo

Na mitologia grega, Cronos era o mais jovem da segunda geração dos Titãs, filho de Urano - o Céu estrelado -  e Gaia, a Terra. Tornou-se senhor do Céu castrando o próprio pai à foice, a pedido da mãe. Casou-se com a própria irmã e com ela teve seis filhos, entre eles o famoso Zeus. Com medo de perder seu trono, engoliu um por um de seus filhos, com exceção de Zeus, que no fim das contas consegue se livrar do pai com o apoio de Métis - a Prudência, tornando-se, assim, senhor do Céu. 

Assim como o titã grego, o Tempo é uma divindade suprema. Ele pode nos engolir, mas também pode nos ensinar lições impagáveis.

Driblando sua "fome", aprendemos a encarar a vida com serenidade e, por que não dizer, prudência. Nos momentos mais difíceis, é a serenidade que nos mantém firmes, com a cabeça no lugar e os pés no chão, evitando o desespero e o caos.

A sabedoria popular diz que o tempo é o melhor dos remédios. As pessoas, hoje, se lamentam constantemente pela falta dele. Acredito que o problema da humanidade não é falta de tempo, mas sim dificuldade, até mesmo incapacidade, de lidar com ele. É preciso aceitar a passagem do tempo e tudo que vem com ela. O tempo nos traz dor, mas também traz alívio; nos traz angústia, mas também nos possibilita refletir e mudar atitudes.

Sendo filho do Céu e da Terra, o Tempo pode nos tirar do chão ou nos manter completamente seguros, inabaláveis. Como qualquer remédio, só será o melhor se for aceito e, acima de tudo, bem administrado, para que possamos encontrar serenidade e equilíbrio.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

De petelecos, flores e amores

Às vezes o acaso nos pega de surpresa e nos deixa sem reação. Então, experimentamos um misto de sensações tão confusas e contraditórias que temos vontade de jogar tudo para o alto; chutar o balde mesmo.

Com o tempo, aprendemos que nessas situações o melhor é usar a velha tática de "respirar-fundo-e-contar-até-um-milhão" antes de tomar qualquer atitude. Em geral, respostas impensadas a acontecimentos aparentemente sem explicação resultam em precipitação e, posteriormente, arrependimento. 

A verdade é que essas pequenas (ou grandes...) surpresas, por mais desagradáveis que sejam, são petelecos que a vida dá na nossa orelha, bem de cantinho, para ninguém ver, com a intenção de nos manter atentos. Não no sentido de colocar uma pulga atrás da orelha, de maneira que a desconfiança e a insegurança prevaleçam sobre qualquer outro sentimento (Elvis já dizia: "We can't go on together with suspicious minds..."); mas de nos mostrar que não temos domínio completo sobre as coisas e, principalmente, sobre as pessoas que fazem parte da nossa vida. 

Ainda bem que não temos! Só assim aprendemos a valorizar o que conquistamos,  a amar quem nos ama, a cuidar de quem amamos. 

A metáfora da flor é um clichê muito explorado no cotidiano e na arte, mas a ideia de que o amor é como uma florzinha faz todo o sentido. A delicadeza de uma flor que precisa ser banhada por água e sol na medida certa e que, por vezes, é machucada pelo vento é facilmente comparável ao sentimento que chamamos de amor. Assim, não podemos impedir que o vento balance a flor, mas podemos protegê-la para que ele não a machuque de forma irreversível. E é, também, com delicadeza que devemos banhá-la de água e sol para que a flor se mantenha viva e colorida pelo maior tempo possível. A única diferença é que, por maior que seja o cuidado, a flor, normalmente, tem vida curta; o amor, por sua vez, se bem cuidado, não acaba nunca. Sim, eu acredito nisso.

Amar não é apenas reproduzir em alto e bom som a frase EU TE AMO. Amar é estar presente no dia-a-dia do outro, e, muito mais do que admirar as qualidades  - convenhamos, a coisa mais fácil do mundo é admirar as qualidades de alguém, é aceitar que nem sempre os desejos, as vontades e as curiosidades da pessoa que amamos é algo que nos faria feliz. Respeitados os limites do bom senso, da fidelidade, da lealdade e da confiança, não há razões para tempestades em copos d'água. 

Dessa forma, penso que a melhor maneira de encarar os petelecos da vida não é responder a eles com agressividade, mas sim encará-los como algo positivo; como oportunidades de conversar e esclarecer possíveis dúvidas ou angústias e, assim, fortalecer o sentimento que existe. Os ventos que balançam as flores podem sim ser apenas brisas que as movimentam suavemente, produzindo, no final das contas, um belo espetáculo da natureza. 

E o que seria a felicidade? A capacidade de aprender com as próprias experiências; de encarar a vida e suas vicissitudes com serenidade; de amar e ser amado, sem criar obstáculos desnecessários; de compreender que as pessoas que amamos não são projeções dos nossos próprios desejos, mas nem por isso são menos dignas de admiração e respeito; de ver a flor que cultivamos com dedicação e apreço crescer forte e bela dia a dia...? São infinitas as possibilidades de resposta a essa pergunta. Pode ser apenas uma, ou todas essas, e muitas outras mais. Não importa.

O que importa é perceber que, se por alguns instantes perdemos nosso chão, é para que possamos parar e refletir sobre as bases desse chão que só depende de nós mesmos para nos manter em pé, firmes.