segunda-feira, 10 de maio de 2010

Casos de Madame Joana - Capítulo I

O primeiro contato de Joana e Vicente foi na festa surpresa que ela havia organizado para seu namorado. Vicente foi acompanhado de sua namorada, que era amiga dos amigos de Joana. Difícil compreender? Resumindo: nem Vicente, nem sua namorada haviam sido convidados para a tal festa, mas, mesmo assim, resolveram comparecer.

A situação poderia ter sido constrangedora para o rapaz, mas não o foi porque estava curtindo um momento ímpar em sua vida. Vicente tinha acabado de terminar um longo relacionamento e estava embarcando numa nova paixão, que parecia ser diferente de tudo que tinha vivido até então. Assim, estava contente por conhecer e confraternizar com aqueles que viriam a ser seus amigos também.

Para Joana, no entanto, a presença do casal intruso não parecia fazer diferença alguma. Mal tinha notado a presença deles. E, se tivesse notado, não fazia esforço para demonstrar. As primeiras palavras que ouviu de Vicente não lhe agradaram. Afinal, com que direito um cara que ela nunca tinha vista na vida fazia piada sobre suas preferências sexuais? Joana, imediatamente, taxou o rapaz de petulante e abusado e não fez a menor questão de mostrar os dentes.

Vicente, até hoje, garante que não lembra do comentário infame que causou tanto repúdio em Joana. Sua primeira impressão sobre a moça também não era das melhores. Achou-a antipática demais, séria demais; quase insuportável. Ficou algumas horas no aniversário e depois partiu com sua namorada para uma outra festa, para a qual havia sido convidado.

À medida que o namoro de Vicente ia se solidificando, a amizade com os amigos de sua namorada ia crescendo. Encontros aleatórios com Joana aconteceram inúmeras vezes, mas ambos não trocavam mais do que um par de palavras, "oi" e "tchau". Eram completamente insignificantes um para o outro.

Relacionamentos são sempre complicados, e o de Vicente, que de início parecia ser estável e tranquilo, passou a apresentar diversos conflitos. Depois de muitos altos e baixos, muitas idas e vindas, acabou optando por aproveitar um pouco mais a vida de solteiro antes de se comprometer seriamente de novo. Deu fim ao namoro, mas as festas e encontros com os novos amigos, aqueles que conhecera através da, agora, ex-namorada, permaneceram. O problema era que continuava encontrando a ex, que, perdidamente apaixonada, não perdia uma oportunidade de se aproximar. Assim, mesmo oficialmente separados, vez ou outra se entregavam à volúpia.

Joana, que já não namorava mais o moço da festa surpresa, era presença quase constante nas festas do grupo, mas sua relação com Vicente permanecia inexistente. Ela, provavelmente, ainda guardava a péssima impressão do primeiro encontro. Ele, que sequer lembrava de ter provocado tal impressão, já não a achava tão antipática, mas ainda não tinha visto necessidade de procurar argumentos para mudar de vez sua opinião. A indiferença persistiu até que, numa noite qualquer, Joana e Vicente se flagraram cantarolando uma música antiga e brega, essas que os jovens em geral detestam. Este foi o primeiro sinal de afinidade entre eles: o gosto musical eclético, incomum entre pessoas de sua idade. Nessa mesma noite, Vicente, depois de perceber que Joana gostava de MPB, comentou com ela a respeito de um show que aconteceria na semana seguinte, e eles trocaram telefones.

Não se ligaram e não foram ao tal show, mas pelo menos tinham conseguido transpor a barreira do "oi" e "tchau". Joana constatou que o moço não era de todo inconveniente como julgava que fosse, e Vicente chegou à conclusão de que ela nem era tão antipática assim.

Algum tempo depois, Vicente, num momento de carência, se descobriu novamente apaixonado pela ex-namorada e resolveu reatar o relacionamento. A namorada, no entanto, fez jogo duro. Tinha medo de se entregar e acabar sozinha novamente, sofrendo tudo pela segunda vez. Mas o desejo que sentia por Vicente era mais forte e decidiu dar uma nova oportunidade àquele que acreditava ser o amor de sua vida.

Tudo corria às mil maravilhas, até que a namorada começou a dar sinais cada vez mais constantes de insegurança. Com o tempo, foi se mostrando ciumenta e possessiva num limite que, para Vicente, era inaceitável. Ele, que nunca em toda a sua vida tinha sido infiel com qualquer de suas namoradas, começou a se sentir tão sufocado e incomodado com as cobranças constantes que se sentia tentado a dar argumentos a ela. Afinal, já que tinha a fama, por que não aproveitá-la?

A essa altura, Joana e Vicente já tinham se aproximado um pouco mais, em virtude das facilidades que a tecnologia proporciona nos dias de hoje. Twitter, Orkut, Facebook revelavam que a antipatia inicial parecia ter se dissipado.

Certa vez, Vicente havia combinado um cinema com um amigo, que por algum imprevisto qualquer acabou não acontecendo. Os amigos, então, se dirigiram a uma casa noturna à qual todo o grupo ia com bastante frequencia. Lá, Joana se divertia com algumas amigas. Por algum motivo, Joana convidou Vicente para tomar uma dose de tequila. Mais uma afinidade descoberta: ah, tequila! O amigo de Vicente, cansado, foi embora. Joana e Vicente, então, se divertiram o resto da noite e decretaram fim à aspereza de sua relação, ainda que inconscientemente.

Pouco tempo depois, em outra festa de aniversário, para a qual todos haviam sido convidados, Joana e Vicente descobriram mais algumas afinidades: além do gosto pela música brasileira e pela tequila, notaram que gostavam muito de se divertir e curtir a festa com os amigos, independentemente de qualquer coisa ou pessoa.

Nesse dia, Vicente estava extremamente incomodado com o comportamento possessivo de sua namorada. Quando Joana adentrou a festa, ele, que já estava levemente alcoolizado, sentiu algo que não esperava. Achou-a mais bonita e interessante do que nunca e, prontamente, foi recebê-la com beijos, abraços e elogios mal intencionados. Ela estava muito animada e tratou de acompanhá-lo na curtição.

Entre uma caipira e outra, Vicente, que nesse ponto já praticamente ignorava sua namorada, que estava de cara amarrada reclamando dele para alguém, não hesitava em dar investidas maliciosas em Joana. Ela, por sua vez, não o afastava, nem o reprimia. Pelo contrário. Ultrapassando os limites do bom senso, Joana beijou Vicente tão logo se viu sozinha com ele.

Como o nível alcoólico já era bem alto, fingiram que nada havia acontecido e seguiram aproveitando a festa. A namorada de Vicente, como que pressentindo alguma coisa, o levou para o quarto e usou sua melhor arma para reconquistar a atenção do rapaz, o sexo. De fato, Vicente e sua namorada tinham uma afinidade sexual incrível. E era nesses momentos que sua namorada declarava todo seu amor, numa maneira muito inteligente de, de certa forma, forçá-lo a retribuir com a mesma intensidade. Em geral, era exatamente o que acontecia.

O problema dessa vez era que Vicente já estava muito insatisfeito com os novos rumos do relacionamento e, por consequência disso, começava a olhar para os lados. Tanto olhou, que encontrou Joana.

Na semana seguinte à bendita festa, Joana chamou Vicente para conversar no MSN e pediu desculpas por tê-lo beijado. Vicente, surpreso, respondeu que não havia motivo para isso, já que ela não o tinha obrigado a nada. Ele também queria. Dessa forma, as conversas passaram a ser cada vez mais quentes e frequentes. Tudo parecia ainda mais excitante pelo simples fato de ser proibido. Os amigos jamais perdoariam tal traição. Vicente não poderia trair sua namorada com uma amiga dos amigos dela. Era inaceitável. Era inevitável.

Ao mesmo tempo que o tesão aumentava, Joana e Vicente se conheciam e viam que eram muito parecidos. Gostos musicais e literários semelhantes; histórias de relacionamentos conturbados parecidos; posturas e ideias coincidentes. As conversas fluíam tão bem, que quando se encontravam, passavam horas a fio filosofando, dissertando, rindo e não fazendo absolutamente nada.

Certa noite, beberam um pouco além da conta e acabaram ultrapassando mais uma barreira. Conversa ia, conversa vinha, e Vicente acabou não resistindo. Joana não impôs qualquer limite. Beijaram-se, tocaram-se e agora já não tinha mais volta. Já tinham feito aquilo que não poderia ter acontecido.

O namoro de Vicente, que já ia de mal a pior, desandou completamente. Por sorte, ou azar, tanto a namorada quanto Joana viajaram para as festas de fim de ano, e Vicente teve um tempo para respirar e colocar a cabeça no lugar. Durante os dias de afastamento, trocava mensagens quase que diariamente com Joana e uma ou outra com sua namorada. Entendeu, então, que independente do que tinha acontecido entre ele e Joana, seu relacionamento não tinha mais solução.

As duas voltaram de viagem. O namoro resistiu por mais alguns dias e, finalmente, deu seu último suspiro numa noite em que, já desconfiada da aproximação repentina entre Vicente e Joana, a namorada teve um surto de ciúmes e provocou uma situação extremamente desagradável em sua casa. Irritadíssimo, Vicente jogou tudo para o alto e rompeu definitivamente com sua namorada.

A relação com Joana, que tanto havia incomodado a todos, agora era de outra natureza. A tensão sexual que existia antes do primeiro contato deu lugar a algo muito maior. A parceria intelectual, a postura de leveza diante da vida, as risadas infinitas os aproximaram muito mais do que ambos imaginavam. Nascia uma grande amizade. Amizade verdadeira. Em poucos meses, pareciam se conhecer profundamente. Naturalmente, acabaram por se afastar dos antigos amigos e fundar um novo grupo e seguem se falando todos os dias.

Hoje, Joana não consegue entender como Vicente sabe tanto sobre sua maneira de ser, agir e pensar. Vicente, por sua vez, também sente que Joana o conhece intimamente e não abre mão de sua companhia, seja para assuntos sérios, seja para momentos de total descontração, regados a muita tequila; sozinhos ou com o grupo de amigos. Enfrenta quem tiver que enfrentar em nome dessa amizade, que nasceu de uma maneira meio torta, mas que, sem maiores pretensões, revela como o amor entre duas pessoas pode surgir do nada e ir além, muito além do que se imagina.

7 comentários:

  1. perfect, I want to read any more...

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  2. huumm...vicente tesão! uahauhahu

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  3. "essa amizade, que nasceu de uma maneira meio torta, mas que, sem maiores pretensões, revela como o amor entre duas pessoas pode surgir do nada e ir além, muito além do que se imagina."

    meio que tou vivendo isso. sempre me identifico com o que tu escreve, adoro :)

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  4. Estou louca pelos próximos capítulos.

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  5. Que bom, Helena... volte sempre!!! =D

    Juzinha, os próximos virão... só um pouquinho de paciência!!! hehehehe... ;]

    D'Menor sem noçãããão!!! hahahahahahahaha...

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  6. Próximo capitulo por favor... amooO

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  7. Gostei do texto! Ansioso para ler a próxima história... Avisa?!

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