Ao 28 anos, naturalmente, não sou um poço de sabedoria. Acredito, entretanto, que, a cada ano que passa, as experiências que vivemos nos trazem aprendizados valiosos, os quais nem sempre sabemos avaliar e por em prática. Aprendizados esses que, dos mais simples aos mais complexos, consequências dos pequenos incidentes do dia a dia ou dos grandes acontecimentos promotores de mudanças significativas na vida, podem ser agentes da nossa própria evolução enquanto seres humanos e podem nos fazer refletir sobre nossas atitudes e, até mesmo, modificar a nossa maneira de pensar sobre os mais diversos aspectos da vida.
Muitas reviravoltas se passaram na minha história ao longo das minhas 28 primaveras, e, hoje, consigo perceber em mim mesma alguns sinais de crescimento que, há cinco anos atrás, para não ir muito longe, a minha cabeça quase recém saída da adolescência não permitia.
Dentre as muitas coisas que aprendi nesse tempo, com experiências próprias ou de pessoas próximas a mim, após um exercício de reflexão que recomendo a todos, consigo compor um pequeno rol com as mais relevantes até o momento.
A primeira delas, e acho que é a mais importante, é: julgar os pensamentos, atitudes, escolhas de outras pessoas que não nós mesmos é o erro mais grave que posso cometer. Por mais próxima que eu seja de uma pessoa, por mais que eu a ame muito, por mais que eu tenha certeza de que a pessoa não está indo pelo caminho correto, NADA me dá o direito de interferir na vida de quem quer que seja. Veja bem, não estou falando de conselhos, embora eu ache que os conselhos devem ser dados, via de regra, quando solicitados. Estou falando de julgamentos mesmo. Posso conhecer intimamente a pessoa, mas nunca saberei o que de fato se passa dentro dela a ponto de avaliar os motivos que a levam a esta ou aquela escolha. Não posso escolher as músicas que alguém deve ouvir, os filmes que deve assistir, os lugares que deve frequentar, o que deve comer ou beber, e, principalmente, eu não tenho o direito de dizer a ninguém, nem ao meu melhor amigo, quem deve estar ao seu lado. Um grande sinal de amadurecimento é saber aceitar as pessoas e suas preferências, ainda que eu não concorde com elas. E não há problemas em expor a minha opinião, desde que ela não machuque, não provoque atritos desnecessários e nem faça com que as pessoas importantes se distanciem. Com o tempo, aprendi que os meus serão sempre meus, independente de suas opções. Gosto de saber que posso contar com eles e que eles podem contar comigo sempre que preciso.
Aprendi, também, que analisar o comportamento das pessoas e criticar seu modo de agir é muito fácil; difícil é olhar para o meu próprio umbigo. É natural observar e fazer objeções aos que estão à nossa volta. Porém, o exercício de olhar para dentro de mim mesma me mostrou que, inúmeras vezes, eu tinha exatamente as mesmas atitudes que tanto detestava nos outros. E como é difícil chegar ao ponto de admitir isso! Requer um grau de modéstia, humildade e autoconhecimento que nem sempre estamos dispostos a revelar a ninguém, quiçá a nós mesmos.
Por vezes, a vida nos coloca frente a situações complicadas, das quais não conseguimos abrir mão ainda que à custa de muito sofrimento. Nesses momentos, recorremos aos amigos, e cada um deles nos brinda com uma opinião diferente, um conselho infalível. Todos enxergam melhor que nós aquilo que tanto mexe com nossas próprias emoções. Muitas vezes entramos em atrito e acabamos nos afastando daqueles que expressam um pensamento que nos desagrada. Passado certo tempo, posso ver que muitas vezes fui egoísta e me julguei autosuficiente, quando, na verdade, precisava e muito daquelas pessoas ao meu lado, com suas opiniões, conselhos, pensamentos. Não que eu fosse segui-los, mas precisava ouvi-los. Hoje consigo entender que cada um teve seu papel e contribuiu à sua maneira para que eu chegasse à tão desejada tranquilidade que me acompanha no presente. Com isso, aprendi que uma das características mais necessárias a um ser humano é a capacidade de OUVIR. Todos gostamos de falar, mas quase ninguém gosta de ouvir o que os outros tem a dizer. E ouvir não quer dizer concordar. Significa apenas coletar dados, colocar na balança e ver o que é positivo e o que é negativo, o que é dispensável e o que é aproveitável, e, assim, inteligentemente chegar a uma conclusão própria, legítima e madura.
Aprendi ao longo da minha vida que admitir os próprios erros e pedir desculpas por eles não é sinal de fraqueza. Tampouco perdoar é falta de força. Ambas as atitudes são sinais de amadurecimento e nos trazem paz de espírito e consciência. O orgulho nos segura porque vem do amor próprio e é fundamental para todos, mas o excesso dele nos torna arrogantes, prepotentes e, a longo prazo, nos leva à solidão. Com o tempo, aprendi que se eu tiver a humildade de reconhecer minhas falhas, deixarei o caminho aberto para que os que estão à minha volta façam o mesmo. E assim, a antiga máxima do "perdoar para ser perdoado" se concretiza e nos tira aquele peso das costas que enrijece a musculatura e, muitas vezes, nos traz mal humor, insônia, descontrole emocional e depressão.
Paulinho da Viola disse numa linda canção "... a dor é minha só, não é de mais ninguém..."; as minhas frustrações são minhas, como são meus o meu sofrimento, o meu cansaço, o meu desespero, as minhas angústias. Os tropeços da vida me ensinaram que não devo culpar ninguém pelos meus fracassos, porque cedo ou tarde eles aparecem, e, na maioria dos casos, é muito mais fácil apontar um bode expiatório do que lidar com eles. É parte crucial do amadurecimento o processo de recriação e reconstrução das nossas bases. Ninguém é responsável pelo meu sucesso, assim como ninguém é culpado pelo inverso. Assim, aprendi que não devo descarregar nos outros o peso da minha insatisfação, sob pena de, novamente, afastar de mim as pessoas que amo e que me amam.
É provável que eu pudesse escrever infinitos parágrafos listando tópicos da minha breve lista de aprendizados. É provável, também, que nem sempre eu consiga colocá-los em prática quando necessário. São muitos os elementos envolvidos quando estamos na iminência de tomar alguma atitude diante de determinado acontecimento. E quase sempre a emoção nos leva com mais facilidade do que a razão. Entretanto, pensar a respeito deles e colocá-los no papel é um exercício e tanto. Espero que, dando continuidade ao meu pacote de mudanças para o novo ano, eu consiga ser mais racional quando necessário e mantenha a cabeça livre e tranquila para agir da forma mais apropriada a cada situação. Espero, ainda, que em breve eu consiga parar para refletir novamente e fazer uma nova edição, revista e ampliada, desta breve auto-análise.